sábado, 24 de setembro de 2011

Capítulo II - Why me?

Ele acordou com o som distante dos sinos da igreja soando e anunciando que era o fim da tarde. Da mesma forma, eles anunciavam o fim da aula. Os alunos começavam a se levantar, ignorando as últimas palavras da professora em sua vã tentativa de conseguir alguns minutos para terminar de explicar a matéria.

Kimmy levantou a cabeça da carteira, preguiçoso, olhando pela janela da classe. O pôr-do-Sol era lindo nessa época do ano e o ar o incitava a dormir o dia todo.

Bocejou, sonolento, ainda encarando o céu por alguns instantes. Seus pensamentos fugiram por alguns instantes, como ocorria frequentemente, pelo menos até seu estômago roncar, pedindo por alimento.

Espreguiçou-se e olhou para seus companheiros de classe. Com certeza essa era a turma mais estranha em que estivera desde que começou a estudar, o que certamente fazia o pastor alemão ficar o mais longe possível da maioria de seus colegas. Já ele, continuaria cochilando e observando o céu, se pudesse, mas sabia que devia retornar para casa.

Os alunos se aglomeravam na frente do portão de saída, aguardando a zeladora liberá-los para irem embora. Em poucos instantes, toda a escola parecia estar lá, conversando. E Kimmy estava encostado em uma coluna, mais distante, observando a tudo e todos.

A já conhecida sensação de solidão apertou em seu peito. Ele olhou de rosto, buscando uma face amiga ou conhecida, mas era inútil, seu pequeno círculo social acontecia apenas fora dali, pois ele mesmo criou seu mundo de isolamento e embora tivesse esperanças, sabia que ali ninguém iria resgatá-lo. Ninguém.

Um toque no ombro. Kimmy sobresaltou-se, olhando assustado para o lado e seu coração se acalmou ao constatar que era uma colega de sala, Thaid.

- Kimmy. - disse ela em um tom calculadamente neutro. - Já tem um grupo para fazer o trabalho de matemática? - perguntou, olhando-o nos olhos, embora ela provavelmente já soubesse a resposta.

Thaid era uma coelha branca de estatura baixa, que usava óculos e a opinião geral é de que ela era a mais inteligente e 'cdf' da sala. Geralmente era evitada por ser considerada "muito arrogante" pelos outros alunos, além de ser uma irritante sabe-tudo.

- Erm... Não. Não tenho. - ele respondeu, tentando copiar o tom cuidadosamente neutro dela, sem total sucesso.

Na realidade, inicialmente ele nem sabia de que trabalho ela estava falando. Sua mente demorou a processar o fato de que devia ser algo que a professora disse enquanto ele estava cochilando. O rapaz se dava ao luxo de dormir em aulas como a de matemática, por achar elas um tanto "fáceis" e "banais". O fato de Thaid convidá-lo para formar um grupo, só confirmava a facilidade que o garoto tinha nessa matéria, na qual só era superado pela própria coelha.

- Ótimo, você está no meu então. - disse ela, cheia de autoridade, cruzando os braços com uma postura obviamente dominadora, ou ao menos na visão do pastor alemão.

Ele pensou em argumentar e reclamar, mas realmente precisava de um grupo. Ponderou por dois segundos até que outra pergunta veio em mente.

- Calma aí... O trabalho não era em grupos de quatro pessoas...? - questionou ele, ao se lembrar vagamente das instruções da professora enquanto seu sono oscilava.

- Exato, com você, temos quatro.

- E quem são os outros?

- Daav e Chloe.

Ele não pôde evitar de fazer uma careta.

Daav era um buldogue parrudo, que era o único mais recluso da sala do que o próprio Kimmy, sendo extremamente rude com aqueles que tentavam se aproximar. Ele era também conhecido por matar muitas aulas, ouvir metal pesado e se envolver com "pessoas suspeitas".

Chloe era uma raposa que tinha a fama de ser a garota mais rodada da escola. Por tabela, tornou-se a mais odiada dentre todas, tanto que as outras garotas a evitavam. Kimmy sabia pouco sobre ela, exceto pelo que ouvia por aí.

Agora fazia sentido Thaid chamá-lo pro grupo, aparentemente ela realmente não tinha mais quem chamar (ou estava querendo o ver morto).

- Então tá, segunda a gente se reúne. - disse ela, se afastando antes que o pastor alemão pudesse protestar, o portão foi aberto e os alunos se empurravam para sair.

Suspirando, Kimmy começava a se conformar com a própria situação. Que mal poderia ser? Nada que fosse pior do que a situação da sua vida atualmente.

Ele coçou a orelha e saiu após a movimentação acalmar, caminhando pela rua de baixo. Naquele final de tarde já se via a lua cheia exibindo-se no céu, porém Kimmy não viu, já que quase sempre encarava apenas o chão.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Capítulo I - How deep my despair is...

Dormindo. Era assim que se sentia o espírito daquele lobo. Se aquilo pudesse ser um sonho, seria um sonho dele adormecido infinitamente. O infinito parecia tão pequeno e curto agora... Mas acima de tudo, havia a paz. Aquela paz que ele só conseguia quando estava em sono profundo. Era quase como um ser no meio do nada. Um nada sem cor, sem tempo, sem existência, sem emoções. Um grande vazio, que por coincidência, era o que ele sentia várias vezes.

Era uma pena, mas sua paz estava para terminar.

O celular despertou alto. Aquele alarme irritante, mas que infelizmente era o único que acordava Ludwa. O lobo abriu os olhos assustado, pois sempre que acordava era por interrupção de seu tranquilo e inacabado sono. Após o momento de confusão, no qual não sabia onde estava e o que estava fazendo, a realidade veio como um soco em seu rosto, no qual o furry tateou buscando o celular, que como se pregasse uma peça no lobo, caiu no chão.

Resmungando ele esticou o braço e desligou o alarme. Sentou-se na cama. Seu corpo estava frio, pois era assim como os dias estavam ultimamente. Levou as mãos ao rosto, frustrado. Era segunda-feira de manhã e acordara mal, como de costume. Sua cabeça latejava e uma sensação de queimação consumia seu estômago e garganta. Ficou assim por quase um minuto, no qual a sua circulação sanguínea voltava ao normal, pois não queria levantar-se e desmaiar.

Suspirando e sentindo a garganta seca arranhar, ele se levantou, tentando se manter na ponta dos pés para recuperar o equilíbrio. Pensou por um instante nas vezes em que se sentia muito mais velho do que era, principalmente ao acordar. Saiu se apoiando nos objetos de seu bagunçado quarto até chegar no banheiro.

Olhou-se no espelho. Estava com uma aparência péssima. Desviou o olhar de seu reflexo e lavou o rosto, olhando-se novamente. Ainda não satisfeito, voltou para o quarto e trocou-se, passando antes pela cozinha do pequeno apartamento e tomando um único gole de água. Lá fora, a rua parecia agitada e o som de buzinas ecoava pelo quarto. O lobo abriu a janela e estreitou os olhos para a luz do dia não o ofuscar. Não havia sol e o tempo estava nublado. Fazendo uma careta, ele terminou de amarrar seu tênis, pegou sua chave e carteira e saiu do apartamento, tomando cuidado para não derrubar ou tropeçar em nada, naquela zona.